Hoje em dia qual é a sua opinião sobre a política e onde se enquadra?
Poderia ser um liberal de esquerda. Sou herdeiro do pensamento socialista e social-democrata. Após décadas de luta política, desliguei-me de qualquer empenho ou vínculo. Ainda vou à esquerda democrática buscar inspiração para a justiça social, a luta contra a desigualdade, a protecção social e a tentativa de aumentar o poder dos que o não têm. À direita vou buscar a liberdade individual, a eficiência, a prestação de contas e o liberalismo da sociedade civil. Lamento que a esquerda tenha perdido valores fundamentais, como a liberdade individual, por exemplo. Lamento que a direita não dê importância à justiça social.
Acha que as eleições primárias para a liderança dos partidos políticos modificam a vontade dos militantes dos partidos?
Pode ou não modificar. O importante, todavia, é olhar para o resultado. As eleições primárias para a liderança dos partidos, as eleições directas para os líderes e outras formas de sufrágio directo e de massas alteraram fundamentalmente o sentido dos mecanismos e sistemas de representação. Foram e são fontes de pura demagogia política, contrária às regras e hábitos de democracia serena, complexa, representativa e programática.
O que é que o motivou, dia após dia, nas mais diversas lutas/batalhas políticas que terá atravessado, decerto, ao longo da sua vida?
O realmente essencial: a liberdade. A liberdade individual. A liberdade como fonte de acção social e colectiva. A liberdade como condição de criação. A liberdade como o respeito entre as pessoas. A liberdade como fortaleza do individuo perante o Estado e todas as formas de poder.
Na sua opinião, devemos continuar a incentivar o Turismo?
Não vale a pena promover o que já existe e é bom. Vale a pena , isso sim, receber bem, com eficiência, com tranquilidade, segurança, beleza, honestidade e respeito pelo património.
A Regionalização pode voltar a aproximar as pessoas da política? Se sim, porquê?
Creio que não. Creio que é uma falsa questão. E um falso problema. A Regionalização é um dispositivo de reforço dos aparelhos políticos e uma maneira de consolidar local e regionalmente a apropriação do Estado pelas máquinas partidárias. Muito mais importantes são as eleições uninominais e as candidaturas livres e independentes.
Parte da sua pergunta terá incluído estudos rurais, migrações e regionalização. O que considera imperativo no combate às assimetrias litoral/interior? Considera esta problemática preocupante?
A questão das assimetrias está sobrestimada. O essencial é a desigualdade de direitos fundamentais e de serviços essenciais de que podem sofrer os cidadãos. De nada serve, por exemplo, obrigar as pessoas a ficar no interior, a estimular que se criem raizes ou a fazer com que as pessoas cresçam e morram no lugar onde nasceram! Importante é promover o aproveitamento dos recursos (água, natureza, floresta, fauna, flora, paisagem, caça e repouso, além de todos os tradicionais recursos agrícolas e alimentares), com ou sem concentrações de população. Há zonas despovoadas que são excelentes a vários títulos e zonas povoadas que são horrores de desperdício…
Num país com um salário médio mensal que nem chega a dois salários mínimos nacionais, vemos Ex presidentes com um vencimento de 80% do salário do atual presidente, e outras regalias inerentes, como viatura e escritório com pessoal, que faz com que os cidadãos olhem para a classe política como aquela que ambiciona manter o estatuto político após o exercício do mais alto cargo do Estado.
Qual é a sua opinião acerca das regalias e privilégios dos nossos Ex Presidentes da República? Acha que as mesmas deveriam de ser abolidas?
Para onde caminha esta Europa, onde os terroristas urbanos (apesar de serem descendentes de imigrantes) são filhos desta sociedade, criados e subsidiados à luz do Modelo Social Europeu? O que falha nesta integração social? É culpa do Modelo Europeu ou também se trata de uma "memória genética"?